13 julho 2024

Matar para Mentir ou Mentir para Matar? A Sina Interminável da Difamação e do Genocídio Imperialista



1991: dissolve-se a gigantesca União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o grande símbolo do comunismo internacional e notável adversário do capitalismo, principalmente dos EUA. Seria essa a prova de que o socialismo falhou? Seria esse marco histórico a prova desse famigerado socialismo ser um sistema insustentável e falho em sua própria natureza? Com veementes afirmativas a esses questionamentos comemoraram os grandes ideólogos liberais, que tanto endossaram e assim continuam a alimentar ideologicamente a propaganda anticomunista desde a guerra fria até os dias atuais. Retóricas simplistas e rasas parecem ser suas preferidas, pois além de serem rápidas, atrativas e de fácil assimilação a quem simplesmente não sobra tempo para leitura de um árduo livro, também fortalecem a ideologia capitalista hegemônica. Essa, por sua vez, prevê que o sistema atual pode não ser perfeito, mas é o “melhor que conseguimos” enquanto humanidade.

Mas apelando à mera reflexão particular: seria assim natural ou até mesmo humano arremessar à fome um terço da própria espécie, mesmo que haja mais que o suficiente para alimentar bem todos os seres humanos há mais de um século? Ora, sabe-se que, devido aos avanços na tecnologia na produção de recursos, há plenas condições de proporcionar-se moradia, saúde e educação para todos os seres humanos do planeta há décadas e ainda assim há tantas pessoas jogadas às ruas, às doenças que já possuem tratamento e ao analfabetismo – não seria essa uma contradição tão evidente de uma sociedade doente?

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 821 milhões de pessoas sofriam de fome crônica em 2018. De acordo com o relatório "The State of Food Security and Nutrition in the World 2020" (O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2020, tradução livre do autor) da FAO, aproximadamente 9,9% da população mundial estava subalimentada em 2019 (aproximadamente 770 milhões de pessoas), um aumento em relação aos anos anteriores. Estima-se que a fome e a má nutrição sejam responsáveis por aproximadamente 9 milhões de mortes por ano, de acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMA). Crianças são particularmente vulneráveis e cerca de 3,1 milhões de crianças morrem anualmente devido à subnutrição.

Doenças crônicas como a hipertensão e o diabetes têm tratamentos eficazes, ainda assim, complicações decorrentes dessas condições resultam em milhões de mortes anuais. A hipertensão é a principal causa de doenças cardiovasculares, que são responsáveis por cerca de 17,9 milhões de mortes por ano globalmente, de acordo com a OMS. Destas, cerca de 10 milhões é atribuída à hipertensão mal controlada, que facilmente poderia ser evitada mediante supervisão médica adequada. Já de acordo com a International Diabetes Federation, aproximadamente 4,2 milhões de pessoas morreram devido ao diabetes em 2019, muitas das quais poderiam ter sido evitadas com diagnóstico e tratamento adequados.

De acordo com relatórios da OMS de 2017, a diarreia causada por infecções bacterianas, virais ou parasitárias, essa facilmente tratável pela reidratação oral e, em casos mais graves, com a ajuda de antibióticos, ainda é responsável por aproximadamente 1,6 milhão de mortes anuais, principalmente em crianças menores de cinco anos em países em desenvolvimento.

Também a tuberculose é uma doença curável, com medicações e antibióticos disponíveis há décadas, no entanto, a OMS estima que 1,5 milhão de pessoas morreram de tuberculose em 2020, sendo a maioria dessas mortes evitáveis. Fatores como a pobreza, a falta de infraestrutura de saúde e a resistência antimicrobiana contribuem para essa persistência.

De acordo com dados da UNICEF de 2020, a pneumonia, uma infecção pulmonar também tratável com antibióticos, é uma das principais causas de morte infantil, resultando em cerca de 800 mil mortes anuais em crianças menores de cinco anos. Já os dados da OMS levantam que anualmente morrem 150 mil pessoas de febre tifoide, outra doença cujo tratamento faz-se disponível há décadas, porém inacessível para muitos.

Um dos principais fatores que perpetuam essas mortes evitáveis é a disparidade no acesso aos cuidados de saúde e em países de baixa e média renda, o acesso a medicamentos essenciais é extremamente limitado. O relatório de 2020 da The Lancet Commission on Essential Medicines Policies destacou que cerca de dois bilhões de pessoas carecem de acesso a medicamentos básicos, devido a condições socioeconômicas extremamente precárias somadas à políticas estatais de austeridade que pouco ou nada visam o bem-estar social. Além disso, a desigualdade de renda dentro dos países também afeta o acesso aos serviços de saúde, exacerbando as taxas de mortalidade por doenças curáveis.

Fatores sociais e políticos desempenham um papel crucial na perpetuação dessas mortes, juntos à instabilidade política, conflitos armados desencadeados por guerras de rapina promovidas pelo imperialismo e pela própria falta de investimento em sistemas de saúde são barreiras significativas ao acesso a tratamentos. Estudos não só da OMS, como das instituições supracitadas e de várias universidades indicam que em regiões de conflito, a destruição de infraestruturas de saúde e a migração forçada agravam a situação, aumentando a mortalidade por doenças curáveis.

Fato científico tão indiscutível e incontornável quanto novo para história da sociedade nesse planeta: a humanidade produz muito mais que o suficiente para alimentar todos os seres humanos desde a década de 1940 – e isso afirmam não só os relatórios da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Food and Agriculture Organization, FAO) e do Programa Mundial de Alimentos (World Food Programme, WFP), mas também vários trabalhos acadêmicos na área. Ainda assim: a fome e as doenças que já possuem tratamento e cura ainda são responsáveis por matar um pouco mais de 27 milhões de pessoas por ano.

Então, pode-se concluir que a mera manutenção do sistema capitalista vigente “consome”, pela fome e pela doença, em torno de 27 milhões de vidas inocentes – incluindo crianças – por ano (sem contar as mortes causadas pelas guerras ou “intervenções militares” para promoção de “democracias” e/ou discursos similares).

Então a retórica capitalista levanta: “o capitalismo pode ser falho, mas não há válida alternativa”, afinal “não há recompensa pela inovação” no socialismo, ignorando completamente o pioneirismo soviético na corrida espacial e no imenso desenvolvimento tecnológico e acadêmico na URSS desse período. Mas ela continua: “não havendo uma suposta recompensa, o trabalhador trabalharia menos, assim sucateando o sistema e levando-o a ruína”, ignorando novamente a transformação de um país agrário e analfabeto, como a Rússia czarista de 1910, em uma superpotência econômica, tecnológica, industrial e bélica com o melhor sistema de saúde e educação do mundo à sua época, tal como foi a URSS. Se faz obvio: para tal retórica liberal fazer sentido, todas as experiências, principalmente a soviética e a chinesa, há de serem reduzidas às velhas difamações da morte, tirania, fome, etc. Por isso se faz tão importante para os capitalistas liberais atacarem a história tanto da URSS como da China Popular: ambos grandes triunfos na história para os trabalhadores e grandes baluartes da luta do povo, além de símbolos socialistas simplesmente incontornáveis, que exibiriam concretamente a força e a pujança dos povos contra a tirania das elites do capital financeiro.

Mas quando há de se falar em fome, logo que urge o velho fantasma do Holodomor, o suposto e famigerado genocídio soviético que, em tese, teria ceifado a vida de milhões de ucranianos na década de 1930. Ora, mesmo com a abertura dos arquivos de Moscou sob aval das próprias autoridades estadunidenses, cujos dados confiscados comprovaram serem absurdas tais teses sobre esse genocídio fictício, já se está comprovado ser essa apenas mais uma entre as propagandas de guerra fria, ainda que iniciada antes dela pelos nazistas. Ainda que Thomas Walker – jornalista revestido com certo heroísmo pelos liberais por ter “desmascarado” a “fome ucraniana” – comprovadamente jamais tenha colocado seus pés na Ucrânia, seus meros relatos pessoais, oriundos talvez de um universo imaginário, foram suficientes para a imprensa marrom de Willian Hearst, a Hearst Communications, emprestar o sensacionalismo barato da própria imprensa nazista e tecer as mirabolantes teses que iriam parir o pífio e covarde mito do Holodomor posteriormente. Em praticamente todas as obras sobre o tema, todas as imagens usadas já foram comprovadamente sequer serem oriundas da Ucrânia: seja de soldados usando fardas do extinto império austro-húngaro ou de guerras muito anteriores ao surgimento da URSS, o conjunto de imagens do tenebroso “genocídio ucraniano” não só carece das fotos que ele insistiu em ter demonstrado, como carece também de números minimamente tangíveis e coesos. Algumas fontes diziam terem morrido 5 milhões, outras 10 e outras 20 – em verdade nem mesmo os liberais conseguem atingir um certo consenso sobre o tema.

Evidentemente, o mito do Holodomor renderia muitos livros que repetiriam as imagens já comprovadamente falsas e até mesmo filmes fantasiosos, visando colaborar com a manutenção do imaginário coletivo dessa farsa histórica transformada em uma verdade inegável, propagada inicialmente pelos nazistas e hoje pelos neoliberais e conservadores. Ignora-se completamente que o próprio Hearst tinha amigos no partido nazista alemão, ou que o próprio Mussolini era correspondente dessa imprensa – essa verdade parece ter sido propositalmente esquecida.

Mas para a apologética capitalista o Holodomor é uma peça vital. Os EUA e seu imperialismo já promoveram mais de 200 invasões a outros países durante sua história, além de terem sido precursores de dezenas de golpes de Estado, causarem muitas guerras de rapina, além de terem levado, como consequência, a fome e as doenças para mais de milhões de pessoas em nome da manutenção do seu poderio político-econômico. Os povos do mundo cada vez mais reconhecem que o imperialismo ianque é o seu grande inimigo, sua nêmese enquanto classe, e procuram, cada vez mais com maior veemência e determinação, alternativas a esse sistema que tanto promove a desigualdade socioeconômica. Pois que quando o socialismo aparece como alternativa mais natural e até mesmo humana para tal, os defensores do capitalismo necessitam diminui-lo, para que ele possa ser descartado enquanto opção – eis a utilidade de mitos tais como o do Holodomor. Não interessa se tal mentira histórica já fora comprovada ser totalmente ilusória, irreal e até mesma absurda – o discurso dos defensores do capitalismo precisa diminuir a ideia de socialismo enquanto inferior ao capitalismo, e a gigantesca inverdade do suposto genocídio ucraniano se faz um exemplo bastante útil para tais tergiversadores da história.

Junto a essa ideia de milhões de mortes supostamente causadas pelo socialismo, caminha a ideia de uma ditadura cruel que suprime toda liberdade individual, silencia os cidadãos e os coloca ao serviço de uma burocracia comunista no topo da pirâmide estatal. Ora, isso de fato não ocorre no capitalismo? Nos dias atuais seria tão difícil visualizar os bilionários financiarem políticos e, consequentemente, Estados para servir seus interesses econômicos, deixando forçosamente bilhões de pessoas à mercê do desemprego, que por sua vez as compele a trabalharem por salários de fome que mal pagam as despesas mais básicas de sua família? Como os arautos da burguesia e seus lacaios comunicadores por ela financiados combatem essa verdade? Com a simples e repetida milhões de vezes mentira de que o socialismo levaria a situações ainda piores, ou ainda com a mentira ainda mais fantasiosa de que vivemos o socialismo atualmente.

Massas de trabalhadores empurradas pela sua própria necessidade às jornadas de trabalho que ultrapassam as dez horas diárias, em sua maioria trabalhando nos finais de semanas e feriados, não tendo acesso a um conforto básico, a uma segurança financeira mínima e nem mesmo a direitos trabalhistas – eis a imagem do capitalismo “livre”, tão propagada pelos meios de comunicação financiados pelos mesmos bilionários que financiam os políticos e o próprio Estado. Contrário a isso em sua mais profunda essência, o socialismo, em suas premissas mais elementares e básicas, tem como objetivo aniquilar o desemprego, bem como diminuir as jornadas de trabalho – como um sistema assim poderia ser maléfico aos trabalhadores? Eis que a mídia e o imaginário burguês agem de maneira incansável, constante e até mesmo petulante em distorcer a história e fazer o trabalhador comum acreditar que o socialismo seria pior, pois cercearia a simples “liberdade de expressão”.

Toda história já desmentiu isso: onde fora implantado, as experiências socialistas reais transformaram países atrasados, famélicos e agrários em potências econômicas e industriais com índices de desenvolvimento humano muito superiores às suas condições anteriores e a outros países de capitalismo burocrático do coloquialmente chamado terceiro-mundo. Mas é claro: as ideias burguesas não tardariam em dizer, de maneira exaustivamente reincidente, que “o socialismo não deu certo” ou “o socialismo não funciona”.

 Assim, vê-se que estudar história desmente muitos mitos – e esse calcanhar de Aquiles da grande burguesia também escuda-se em grotescos e tacanhos efúgios e torceduras da história humana. Não só propagar que “o socialismo matou milhões” como “o socialismo não funciona” se faz suficiente, pois necessariamente propaga-se a ideia de uma tirania comunista, satânica e conspiratória para tentar afastar tais ideias revolucionárias do povo trabalhador.

Portanto, quando a mentira dita não só mil, mas um milhão de vezes pela burguesia vir a tona: “os 100 milhões de mortes causadas pelo comunismo” – esse é o custo em vidas pela manutenção do sistema capitalista em menos de 4 anos em tempos de relativa “paz”. “Acuse-os do que vocês faz!” dizia a cartilha desses desgraçados, sim! A cartilha escrita em 1960 em território americano, meta-aplicada com relativo sucesso junto ao oceano de repetidas mentiras na esperança de virarem verdades, como ensinou seu velho mentor.

Martins L. E. Gutierrez,
Estudante de mestrado da Uneatlantico
Julho de 2024
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publicado por:

28 anos, orientador social, graduando em Ciências Sociais, marxista-leninista, militante do Arma da Crítica e amante da boa música.

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