Derrotada na eleição presidencial do último domingo, a extrema- direita venezuelana apela à sua tática tradicional de não reconhecer o resultado das urnas. A alegação é sempre a mesma. Sem apresentar provas afirma ter ocorrido uma fraude monumental em favor do chavismo. O objetivo é criar o caos institucional e, com isso, justificar a permanência de uma guerra econômica contra o povo venezuelano, incluindo apelos a uma intervenção militar estrangeira.
Desde a vitória de Hugo Chávez, em 1998, a Revolução Bolivariana vive sob cerco. Em 2002 a oposição oligárquica tentou um golpe de Estado, derrotado pela mobilização popular e setores das forças armadas fiéis a Chávez. Em 2015, Obama declara a Venezuela uma ameaça a segurança dos Estados Unidos. A decisão abriu as portas para uma guerra econômica contra a Revolução, que buscou destruir a economia do país.
Em 2019, um insignificante deputado, Juan Guaidó, autodeclarou-se presidente do país. Em nome da ajuda humanitária, os Estados Unidos tentaram invadir a Venezuela. As contas do governo no exterior foram congeladas e, a seguir, surrupiados pelo imperialismo. Em 2021 a Venezuela foi proibida de acessar suas reservas de ouro depositadas no Banco da Inglaterra, estimadas em 2 bilhões de dólares. A Citgo, estatal venezuelana dona de milhares de postos de combustível nos Estados Unidos, avaliada em 10 bilhões de dólares, teve autorizada sua venda pelo governo dos Estados Unidos, sem permissão de seu dono de fato, o governo da Venezuela. As centenas de sanções contra o país impediram a importação de alimentos e remédios. Estima-se em 40 mil o número de mortos só entre 2017 e 2018 em consequência da guerra econômica.
Para o imperialismo e as oligarquias latino-americanas, o problema não é se a eleição foi democrática. Para ambos, a vitória de Maduro é inaceitável sob qualquer forma. A estratégia do imperialismo é acentuar os mecanismos coloniais e semicoloniais de exploração como forma de encarar os efeitos da crise econômica de 2008 e a presença de China e Rússia como potências econômicas concorrentes.
Por isso a Revolução Bolivariana precisa ser expurgada, condição essencial para os grandes monopólios norte-americanos acessarem as imensas riquezas da Venezuela, dona das maiores reservas de petróleo do mundo. A política do imperialismo, aliado às oligarquias locais, é a de colocar essa riqueza a serviço de seus interesses, e não no interesse de um projeto nacional e popular.
Não cabe vacilo na defesa do resultado eleitoral. Até o momento os governos de Brasil e Colômbia titubeiam em reconhecer a vitória de Maduro. Lula e Gustavo Petro precisam compreender que essa demora alimenta a instabilidade política e faz o jogo da oposição. Deve-se denunciar a covardia de Gabriel Boric, presidente do Chile. Anunciado os primeiros resultados esse lambe-botas do imperialismo publicou um tuíte de que seu governo não reconheceria a eleição, acusando-a sem provas de fraude. Boric é mais um traidor da causa latino-americana, a quem os povos de Nuestra América e do próprio Chile lhe reservam o devido lugar: a lata de lixo da história.
Quanto à esquerda brasileira, dominada por liberais e um oportunismo eleitoral rasteiro, se realmente estão preocupadas com a ascensão da extrema-direita, devem sem vacilo reconhecer o resultado. O candidato da oposição venezuelana, Edmundo González, é um representante da extrema-direita no país. É aliado de Milei, Trump e Bolsonaro. Seu programa de governo é aplicar um duríssimo ajuste ultraliberal, privatizar a riqueza petrolífera e destruir todas as conquistas da Revolução. Se a esquerda brasileira quer mesmo contribuir para a derrota da extrema-direita deve apoiar sem covardia a vitória de Maduro e não se iludir com a eleição de Kamala Harris e a derrota de Trump nos Estados Unidos.
No momento a Venezuela precisa de todo o nosso apoio. A oposição tem apelado para a violência como forma de contestar sua derrota. Temos a certeza, porém, de que o povo venezuelano conseguirá superar esse momento crítico e fará a Revolução Bolivariana avançar.
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