14 agosto 2024

Nota de Conjuntura #32: Uma esquerda aquém das necessidades históricas do Brasil


A posição de setores da esquerda brasileira sobre o resultado da eleição venezuelana, alinhando-se com as posições do imperialismo e condenando o governo de Maduro, expôs o quanto ela está aquém das necessidades históricas impostas pela luta de classe.

Política e ideologicamente, ela está constituída, em sua maioria, por liberais de esquerda. Sociologicamente predomina em seu interior, setores sociais médios. Alguns se radicalizaram a partir de 2013 e outros mais tardiamente, quando o bolsonarismo fez sua entrada avassaladora na cena política com suas pautas de natureza conservadora, provocando uma reação desses setores. Uma parte desses setores avançou para posições comunistas e revolucionárias. Mas outros ainda se mantém presos a uma perspectiva liberal.

Em seu conjunto essa esquerda baseia sua leitura na ideia da democracia como valor universal. Ignora categorias centrais de análise como luta de classe e imperialismo. Há uma adesão quase completa ao eleitoralismo e ao jogo institucional burguês. É movida por referências mais cosmopolitas e menos nacionais. É mais sensível ao debate de cunho moral, escandalizando-se com as propostas retrógradas dos conservadores. Porém, no tema da política econômica já não mostram a mesma indignação.

Carregam consigo alguns vícios de sua situação de classe ao manterem certo elitismo em suas análises. O exemplo está numa certa ideia de superioridade moral e intelectual de que no Brasil haveria uma jabuticaba: o “pobre de direita” que votaria contra seus próprios interesses de classe.

Por sua condição de classe, e sem estarem amparados num movimento popular poderoso, esse segmento vive em estado de constante amedrontamento. Oscila entre a euforia, quando investigações ameaçam com a prisão da família Bolsonaro, ao pavor de um retorno do extremismo de direita, quando em algumas circunstâncias o bolsonarismo ainda mostra força social.

A causa básica desse cenário é a perda de vitalidade, acentuada nas últimas duas décadas, do poderoso movimento de massa surgido entre 1970 e 1980. A fantástica ascensão das massas trabalhadoras na cena política, observada nesses anos, murchou. Coube ao liberalismo de esquerda ocupar o vazio deixado por um movimento popular e operário de natureza contestatória. Porém, esse segmento é incapaz de levar a frente uma luta capaz de neutralizar a força da demagogia reacionária e fascista.

No atual contexto da acumulação capitalista no Brasil, a burguesia se sente à vontade para pisar sobre a classe trabalhadora. E isso acontece porque esta não representa atualmente uma ameaça à ordem burguesa. Se a esquerda em geral, e particularmente os comunistas, quiserem estar à altura das atuais necessidades históricas da luta de classe no Brasil, terão de se mostrar capazes de organizar, estimular e orientar as lutas populares. Será preciso refundar a esquerda brasileira.

É preciso retomar com urgência o debate da pauta econômica, da exploração e do imperialismo. É preciso mobilizar as massas trabalhadoras e pressionar o governo a alterar os rumos da economia. Lula tem reclamado de uma falta de mobilização do movimento sindical e popular que lhe dê suporte político para enfrentar o rentismo. Só por esse meio poderemos superar a influência do liberalismo de esquerda. Caberá aos comunistas esse papel.
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28 anos, orientador social, graduando em Ciências Sociais, marxista-leninista, militante do Arma da Crítica e amante da boa música.

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