Texto original por Victor Vaughn (disponível em: arma.cr/furr)
Texto traduzido pelo camarada Allan Galesco, militante da OCAC.

Grover Furr é um professor e autor norte-americano. Ele leciona na Montclair State University, em Nova Jersey, há mais de quatro décadas e escreveu ensaios, artigos e livros sobre a história soviética, tanto em russo quanto em inglês. Embora sua obra aborde uma ampla variedade de temas, seus escritos mais conhecidos analisam o período da história soviética sob Joseph Stalin, especialmente as controvérsias em torno dos Julgamentos de Moscou, do chamado 'massacre' de Katyn, dos eventos na Polônia em 1939, do assassinato de Serguei Kirov, da fome na Ucrânia e do 'discurso secreto' de Khruschov. A pesquisa de Furr sobre a história do comunismo, a história soviética e as falsificações históricas propagadas contra o socialismo é notável, inovadora e esclarecedora. Ele adota uma abordagem baseada em documentos de forma extremamente precisa e admirável, um método de pesquisa valioso e difícil de encontrar em outros lugares.
Essa abordagem, como era de se esperar, lhe rendeu uma quantidade considerável de inimigos e críticos, não apenas à direita, mas também à esquerda. Aqueles que o atacam dentro da esquerda são, sem dúvida, os mais peculiares entre seus críticos. O professor Furr se dedica a examinar alegações históricas usadas para atacar o socialismo e, em seus livros e artigos publicados, busca e apresenta provas documentais e arquivísticas objetivas que demonstram que essas alegações são falsas ou, no mínimo, enganosas. Em outras palavras, ele investe um grande esforço no combate à propaganda burguesa contra o marxismo-leninismo. E qual tem sido a resposta? Atacá-lo.
Seria de se esperar que alguém fluente em russo, que traduziu documentos russos e tem acesso a arquivos históricos, despertasse o interesse daqueles que buscam compreender a história do socialismo. Além disso, esperaria-se que uma pessoa sincera, que se considera socialista ou marxista, agradecesse a Grover Furr por encontrar evidências de que grande parte do que nos é dito sobre Stalin e a União Soviética são mentiras.
Vivemos em uma era em que a maioria dos acadêmicos marxistas ou progressistas que ousam desafiar o status quo são demitidos, marginalizados, expulsos da academia ou simplesmente considerados irrelevantes. Somente um ingênuo fingiria que a repressão acadêmica não é uma realidade. No entanto, quando se trata das obras corajosas, ousadas e desafiadoras publicadas por Furr, os críticos as descartam universalmente sem sequer revisar as evidências que ele apresenta.
Em debates, nunca os ouvi dizer: 'Não, professor Furr, discordo da sua tese e gostaria de apresentar uma contra-tese. Aqui estão meus fatos, argumentos e fontes que a sustentam.' Em vez disso, o que se repete constantemente é a desqualificação de seu trabalho como 'absurdo' ou 'insano', além da rotulação do próprio Furr como 'lunático' ou 'stalinista'. Quase sempre há uma tentativa de associar seus métodos de pesquisa a antissemitas e fascistas, ou até mesmo de acusá-lo diretamente de ser um 'negacionista do Holocausto', estabelecendo uma comparação implícita entre a história soviética e a Alemanha nazista.
Por que seus críticos quase sempre agem dessa maneira? A resposta é simples: porque não conseguem refutar nada do que ele diz.
Apesar de todas as contribuições de Furr para a compreensão da história soviética e para a refutação das mentiras sobre a vida nos países socialistas, seus críticos e opositores não apresentaram nenhuma refutação substancial de suas obras, nem sequer engajaram com as evidências nelas contidas. Quando instados a resumir suas teses, analisar as evidências que ele apresenta para sustentá-las e, em seguida, oferecer contra-evidências e refutações próprias, o silêncio preenche o espaço. Pouquíssimos, se é que há algum, de seus críticos são capazes de definir exatamente quais pontos de suas obras contestam ou podem provar como falsos. Muitas vezes, fazem afirmações que já foram abordadas no próprio artigo em questão.
Os opositores da pesquisa de Furr, independentemente de suas diferenças ideológicas, compartilham um traço comum que, com o tempo, se torna impossível de ignorar. Por mais que vociferem e bradem, nenhum deles o desafia diretamente em relação às fontes ou tenta refutar seus argumentos. Há uma razão concreta para isso: a oposição à pesquisa de Furr decorre de um anticomunismo instintivo.
O veneno incessante da pseudo-esquerda em relação ao trabalho de Furr é inteiramente (não parcialmente, nem mesmo em sua maioria, mas, pelo que vi, inteiramente) desprovido de contra-crítica, contra-evidência, pesquisa contrastante ou qualquer tipo de engajamento com o trabalho de Furr. No momento, não há refutações acadêmicas ao trabalho de Grover Furr. Por outro lado, críticas hostis são abundantes. Também não faltam críticos que repetem “nos dê mais evidências”, exigindo uma quantidade maior de provas para sua satisfação – o que, é claro, significa um nível de evidência que nunca será suficiente, não importa quão grande seja. Outro padrão consistente entre seus críticos é que eles assumem que um autor deve ser capaz de provar o significado de sua pesquisa para a satisfação de um crítico hostil ou cético, a fim de ser considerado válido. Se o autor não consegue cumprir essa tarefa, isso prova que ele ou ela não entende o que está dizendo e, além disso, esse fracasso é uma prova definitiva de que toda a pesquisa é, consequentemente, sem sentido.
O debate sobre Grover Furr é sempre sobre a forma – a pessoa, seu estilo de escrita, seus supostos motivos, sua alegada desonestidade ou falta de qualificação – e nunca sobre o conteúdo – as evidências apresentadas, o que elas mostram e se são verdadeiras ou não. A pseudo-esquerda infantil responde à ciência com provocações, aos fatos com hostilidade, à razão com insultos, a questões ideológicas com ataques pessoais e às questões profundas levantadas pelo trabalho de Furr com críticas superficiais. Isso não significa que qualquer pessoa que tenha críticas ao trabalho de Furr seja automaticamente contrária ao socialismo. Muito pelo contrário – a crítica é uma parte essencial de ser marxista-leninista. Mas, em grande parte, as críticas a Grover Furr não são feitas a partir de um posicionamento fundamentado.
“Ninguém leva Grover Furr a sério” é o refrão repetido. No entanto, John Arch Getty, Robert Thurston, Lars Lih e muitos outros elogiaram o trabalho de Furr, mesmo discordando de sua política. Não é necessário compartilhar completamente a visão de mundo de Furr para encontrar grande valor em seus ensaios, artigos e livros. Na verdade, qualquer pesquisador sério, marxista ou não, pode aprender muito com as evidências que ele reúne para sustentar seus argumentos – evidências que quase nunca são lidas ou estudadas cuidadosamente por aqueles que o denunciam com veemência. Se a ideia de que Furr não é um acadêmico sério fosse uma posição legítima, então deveriam existir críticas ao seu trabalho acadêmico. Talvez não seja surpresa que eu nunca tenha ouvido um único argumento sobre por que Grover Furr seria uma fonte inaceitável de informação, além do fato de que suas opiniões não são populares. Se seus argumentos em si não podem ser refutados, então seus críticos não têm o direito de rejeitar a citação de seu trabalho.
Muito se fala sobre as “credenciais acadêmicas” de Furr, ou sua suposta falta delas, para escrever sobre os temas que escolhe. Dizem que ele é um professor de inglês e, portanto, não pode ser considerado uma autoridade em história. Esses nobres cavaleiros dedicados à defesa da academia capitalista “credível”, veja bem, devem se pronunciar contra Furr. No entanto, essas mesmas pessoas não têm nenhum problema com os trabalhos de Noam Chomsky, um linguista que escreve uma infinidade de livros sobre os mais variados temas fora de sua área, como política externa dos EUA, economia, ciência, imigração e a Guerra Fria. Qualquer um que esteja familiarizado com o trabalho de Chomsky sabe que suas opiniões são uma mistura de anarquismo tradicional com liberalismo clássico da era do Iluminismo. Suas ideias não são simpáticas ao socialismo e certamente não representam uma ameaça para ninguém na classe dominante. Falar contra o imperialismo, por si só, não é um ato particularmente radical, especialmente quando não se faz isso a partir de uma perspectiva marxista. Muitos extremistas de direita e libertários também criticam a política externa dos EUA. Então, por que o duplo padrão? Qual a diferença entre Furr e Chomsky? Simples: Chomsky é o garoto-propaganda do anti-comunismo de esquerda, de um esquerdismo “seguro” e domesticado, desprovido de qualquer coisa inaceitável para a burguesia. Enquanto isso, a pesquisa de Furr busca refutar a propaganda anti-comunista popular, em vez de aceitá-la. A pseudo-esquerda prefere apoiar a causa pequeno-burguesa em vez da proletária, porque são “radicais” presos a esse modo de pensar.
É absolutamente inegável que a visão moderna da história do socialismo foi moldada por aqueles que o desprezam e, ainda assim, falsos esquerdistas não têm problema em sustentar as calúnias mais vis contra a história soviética, do Leste Europeu e da China. Em um ambiente onde os trabalhos altamente questionáveis de Robert Conquest e Richard Pipes são tratados como dogmas e considerados dignos de engajamento sério ou até de refutação, o trabalho de Furr é alvo de desprezo e difamação tanto por reacionários quanto pela pseudo-esquerda.
Quando a negação não é suficiente, inventam-se acusações genéricas, como a alegação de que suas apresentações da história são “teorias da conspiração”. O mesmo já foi dito sobre os trabalhos de outros estudiosos marxista-leninistas, como William Bland. Reforço mais uma vez que, até que haja refutações, essas acusações não podem ser aceitas. Afinal, com todo o histórico de conspirações capitalistas que conhecemos, alguém pode realmente aceitar esse nível de argumentação? Os fatos são verdadeiros ou não? Gritar genericamente “stalinista” contra Furr não significa nada. Se os críticos possuem contra-evidências, então que as apresentem. Isso não deveria ser uma exigência irracional para um marxista – ou para qualquer pessoa, na verdade.
Quando Furr fala sobre conspirações de oposição dentro da União Soviética, ou sobre lacunas e falsificações descaradas na história oficial de Katyn, essas questões são tratadas com o mais absoluto ceticismo. A ideia de que os réus dos Julgamentos de Moscou possam realmente ter estado envolvidos em conspirações terroristas para derrubar o governo soviético e assassinar autoridades é vista como um absurdo. No entanto, quando nos apresentam histórias sobre uma conspiração hedionda envolvendo J.V. Stálin e um grande número de outros altos funcionários para assassinar Zinoviev, Bukharin e vários outros por meios judiciais, então essa “teoria da conspiração” é adotada como a posição correta por padrão. Isso demonstra que é mais fácil seguir a narrativa dominante – ou seja, a da burguesia – sobre a história do socialismo do que desafiá-la objetivamente.
Com a falsa esquerda, a fórmula não poderia ser mais simples: a propaganda da Guerra Fria dos EUA é aceita como verdade, enquanto a pesquisa acadêmica pró-comunista não é. Toda acusação contra os países socialistas é verdadeira; toda defesa do socialismo é equivalente à negação do Holocausto. Aqueles que, pelo menos em palavras, concordam que a história da União Soviética é falsificada por acadêmicos capitalistas e reacionários, e que os líderes socialistas são rotineiramente submetidos a calúnias descaradas, são declarados “insanos”, suas pesquisas ou conclusões são consideradas “absurdas” e ridicularizadas como coisa de “lunáticos” ou “stalinistas”. Os críticos não analisam as evidências nem se envolvem com a tese; eles simplesmente a descartam. Eles não apresentam contra-evidências; apenas afirmam que elas existem. Os falsos opositores de Furr na “esquerda” afirmam que ele “não é um acadêmico confiável” apenas porque não concordam com ele. Furr é considerado um “lunático” simplesmente porque eles não gostam do que ele tem a dizer. Em sua visão, a pesquisa acadêmica que contraria a narrativa histórica da propaganda burguesa deve ser descartada, silenciada, desvalorizada, deslegitimada, escondida do público e, no fim das contas, destruída.
Parece-me que a “esquerda” precisa se olhar no espelho, encarar-se diretamente nos olhos e perguntar: no que nos tornamos, se não conseguimos refutar esses trabalhos? O que exatamente isso significa, quando toda a pseudo-esquerda é incapaz de refutar alguém que supostamente é um “lunático sem credenciais acadêmicas”? O que significa quando eles não conseguem sequer definir o conteúdo real do trabalho de Furr quando questionados, mas já o declararam falso por completo? O que significa quando não têm nenhuma evidência para refutar as afirmações de Furr, mas dependem exclusivamente de atacar Grover Furr como pessoa?
Qualquer alegação de que seus trabalhos estão “abaixo da crítica” é desonesta. Se são dignos de tanta hostilidade, então também são dignos de uma crítica honesta. Se ao menos todos nós verificássemos os fatos e citássemos nossas fontes para que todos pudessem ver, como Furr faz, em vez de nos apoiarmos em nossas próprias noções preconcebidas e preconceitos, talvez a esquerda americana não estivesse em uma posição tão precária nos dias de hoje.
O ódio da pseudo-esquerda não tem nada a ver com honestidade. Isso ocorre por causa do anti-comunismo – não por discordância política, não por diferença ideológica, não por um problema com a pesquisa de Furr ou suas conclusões, nem por uma questão com seus métodos ou uma crítica legítima às suas evidências. É uma visão liberal e reacionária que afirma que qualquer coisa anti-soviética e anti-Stálin deve ser verdadeira, enquanto qualquer coisa que desafie essa visão deve ser atacada, difamada, demonizada, ridicularizada e silenciada. Quando as evidências não são analisadas ou são simplesmente descartadas, e a pessoa em si é difamada, isso não é uma discordância legítima, nem uma diferença ideológica – é ódio e preconceito.
A questão permanece: por que a pseudo-esquerda odeia Grover Furr? A resposta se torna óbvia: eles odeiam Grover Furr precisamente porque seu trabalho desafia a hegemonia do paradigma anti-comunista e anti-Stálin da Guerra Fria, baseado na narrativa de Trotsky-Khrushchov-Gorbachev, que é o paradigma dominante da burguesia. Em outras palavras, eles odeiam Grover Furr porque ele é um bom comunista em uma era repleta de falsos comunistas. Eles odeiam Grover Furr porque ele é um pesquisador honesto em uma era saturada de propaganda. Eles odeiam Grover Furr porque ele possui evidências para as conclusões que tira e as apresenta abertamente, em vez de depender do emocionalismo. Eles odeiam Grover Furr porque ele desafia a compreensão burguesa e anti-comunista da história soviética. Hoje em dia, os pseudo-esquerdistas não são apenas desonestos ou liberais; eles são anti-comunistas declarados.
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